A conferência decorrerá no Salão Nobre da Universidade Aberta (sito na Rua da Escola Politécnica, 141, em Lisboa). A participação é gratuita, mas requer inscrição prévia para o e-mail: lit.human.cosmo@gmail.com Resumo: Parece hoje incontornável, no campo dos estudos literários, a discussão sobre a ampliação do cânone literário, que perpetua a hegemonia de uma estrutura ideológica e histórica espácio-temporal. Embora, sobretudo na Academia, esta ideia ainda encontre alguma resistência, o certo é que a consciência da diversidade do mundo impõe que se considerem outros paradigmas, perspectivas, gostos estéticos, sensibilidades e, sobretudo, pontos de observação, para dar conta da multiplicidade das tradições literárias de geografias culturais (semi)periféricas. É através da crítica pós-colonial que se reorganizam em outros alicerces e percepções do literário, de forma a reivindicar a legitimidade do seu lugar na literatura mundial e questionar as percepções eurocêntricas do cânone. Impõe-se, com efeito, uma nova perspectiva epistemológica em que é possível pensar a literatura (e as literaturas em português, em particular) a partir das suas densas relações, de trânsitos, disseminações e circulações de carácter mundial, para além, portanto, de redutores binarismos como centro/periferia, local/global, nacional/universal. Um dos instrumentos é a que é facultada pela categoria literatura-mundo, propulsora de uma mudança epistemológica que permite pensar as produções culturais, de que destaco a literatura, para além do seu lugar original, para além, enfim, da sua geografia cultural e da historicidade. Trata-se, com efeito, de uma categoria em fase de consolidação na crítica literária do mundo da língua portuguesa, que tem permitido, como gesto comparatista, uma abordagem cosmopolita no estudo das literaturas em português, pela proposta de múltiplas articulações alternativas no estudo comparado dessas literaturas e entre essas e literaturas, do Norte global e aquelas “tradicionalmente” entendidas como periféricas. Bio: Inocência Mata é doutora em Letras pela Universidade de Lisboa e pós-doutora em Estudos Pós-coloniais (Postcolonial Studies, Identity, Ethnicity, and Globalization) pela Universidade de Califórnia, Berkeley; é professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na área de Literaturas, Artes e Culturas, e investigadora do Centro de Estudos Comparatistas (CEComp). É diretora do Doutoramento em Português Língua Estrangeira/Língua Segunda. Na Universidade de Macau (2014-2018) foi vice-diretora do Departamento de Português, coordenadora do Programa de doutoramento (PhD in Literary and Intercultural Studies – Portuguese) e diretora do CIELA (Centre for Luso-Asian Studies/ Centro de Estudos Luso-Asiáticos). Atua, no ensino e na investigação, principalmente na área dos Estudos Pós-coloniais, e interessa-se pelos seguintes temas: literaturas e culturas africanas, relações estéticas entre literaturas em português, literatura-mundo, estética da memória, produção literária de autoria afro-descendente em Portugal e comunicação intercultural. Professora visitante de muitas universidades estrangeiras, é igualmente membro do Conselho Editorial e Científico de muitas revistas de especialidade, nacionais e estrangeiras. É autora de dezenas de ensaios publicados em periódicos nacionais e estrangeiros na área de literaturas e culturas africanas, literaturas em português e estudos pós-coloniais e culturais. Entre as suas obras mais recentes estão: Polifonias Insulares:Cultura e Literatura de São Tomé e Príncipe (2010), Francisco José Tenreiro: as Múltiplas Faces de um Intelectual (2011), Ficção e História na Literatura Angolana (2011), Discursos Memorialistas Africanos e a Construção da História (2018); e, em co-autoria: Colonial/Post-Colonial: Writing as Memory in Literature (2012, Lisboa, com Fernanda Gil Costa); Pós–colonial e Pós–colonialismo: Propriedades e Apropriações de Sentido (2016, RJ, com Flávio García); Literatura-Mundo Comparada, Perspectivas em Português: Mundos em Português (2017, Lisboa, com Helena Carvalhão Buescu); Trajectórias Culturais e Literárias das Ilhas do Equador: Estudos sobre São Tomé e Príncipe (SP, 2018, com Agnaldo Rodrigues da Silva); The Open Veins of the Postcolonial: Afrodescendants and Racisms (Portuguese Literary & Cultural Studies 34/35, Dartmouth, Massachusetts, com Iolanda Évora).