CALL FOR PAPERS
V Congresso
O Mundo do Trabalho em Portugal:
“Da fundação do Movimento Operário à atualidade”

Local: Escola Secundária Camões, Lisboa
Data: 22 de novembro de 2025, das 9h30 às 18h00

Inscrições: observatoriocondicoesdevida@gmail.com
As inscrições deverão ser feitas via email, acompanhadas de um resumo com um limite máximo de 1500 palavras e de uma mini-biografia do/a proponente.

Data de submissão das propostas: 31 de Junho de 2025
Data de notificação de aceitação de propostas: 31 de Julho de 2025

Apresentação

O V Congresso O Mundo do Trabalho em Portugal: da Fundação do Movimento Operário à Atualidade aspira a profundar o conhecimento sobre o mundo do trabalho, dando não apenas continuidade aos encontros anteriores, mas aprofundando uma perspetiva crítica que nos ajude a responder aos problemas e questões colocados pela crise em que nos encontramos: guerras internacionais e conflictos interimperialistas, problemas socioambientais, políticas de austeridade autocrática e mercantilização dos direitos sociais das classes trabalhadoras. Entre estes desafios,  particularizamos a degradação das assim-chamadas condições de trabalho e de vida, a profunda crise de organização dos trabalhadores, a “aparência necessária” do fim da centralidade do trabalho em todas as esferas da vida, situações estas que convulsionam e fragmentam as formas de consciência de classe alcançando os mundos da política, da cultura, da educação, da saúde e, ao fim e ao cabo, da estrutura da vida quotidiana como um todo. O sofrimento e o desalento da maioria da população sobre o porvir não são um dado novo na longa história do capitalismo – esta dimensão crucial, o futuro por se construir, sempre foi um emolumento das lutas sociais, das greves operárias, da organização colectiva e do acalorado debates sobre táticas e estratégias que pudessem por fim se materializar em mudanças, reformas e revoluções sociais. Esperamos que este formato – que retoma para o mundo da ciência, a ideia de Congresso tal como praticado no movimento associativo dos século XIX – seja uma arena aberta ao saber-fazer comprometido com os desafios e dilemas das lutas de classes, um espaço-tempo em que movimentos, plataformas e iniciativas distintas possam expressar sem receios as suas análises, e caracterizações e propostas como contribuições reais às companheiras e aos companheiros, debatendo divergências e discordâncias de diversos níveis em busca de consensos progressivos que possibilitem sínteses que fortaleçam a unidade de acção mantendo o pluralismo de ideias contra a ordem do capital.      

Procuramos reunir diferentes tipos de investigadores, estudiosos e intelectuais, académicos e não-académicos, bem como entidades representativas dos trabalhadores, organizações colectivas que refletem a vida social, e o movimento cultural e associativo como um todo.

Neste encontro procuraremos testar um modelo, que, não sendo inédito – como não recordar as Conferências Democráticas de 1871 –, traduz as características autónomas e críticas dos grupos que se juntaram para organizar este Congresso. Em vez de apresentações de 15 ou 20 minutos, que se sucedem com escasso lugar para reflexão critica e criação cooperativa, o Congresso tentará outra metodologia. Os participantes (repetimos, académicos e não-académicos) enviarão um resumo sobre um dos problemas      do congresso, cada tema decorrerá num único espaço, como numa Ágora, e será aberto por um conferencista comprometido com a tarefa de elaborar indicações sobre a problemática teórico-prática que a questão evoca. A seguir, o debate seguirá por um tempo de 3 horas, aberto a todos os participantes, a partir das colocações sugeridas pelo conferencista e, é necessário frisar, pelos próprios resumos e  ideias apresentadas por cada participante.

Na prática, durante o encontro, teremos um convidado que fará uma análise global sobre o tema ali debatido, abrindo o debate para os inscritos. A ideia não é tão-somente listar pesquisas em curso ou dados recolhidos, mas, sim, aglutinar este conhecimento em torno de um problema para se pensar hipóteses, respostas e diferentes tentativas sobre os temas, ou seja, elaborar novas proposições e sínteses dialécticas que possam contribuir para discutir estratégias de superação das condições de barbárie que incidem sobre as classes trabalhadoras e a maioria da população. Salientamos a importância central da relação entre teoria e prática, acreditando que as questões teóricas são fundamentais para o conhecimento da sociedade, desde que informadas pelos desafios postos à humanidade, requisitos fundamentais para a transformação das realidades actuais.      

No fim de cada sessão a equipa da relatoria, escolhida entre os participantes junto do coordenador da sessão, fará um resumo das principais ideias, controvérsias e propostas. Os quatro coordenadores apresentarão, num auditório comum, essas conclusões, abrindo-se então o debate a todos os participantes das quatro sessões, agora reunidos em Plenário.

Convidamos os/as interessados/as a se aventurarem neste evento ao enviarem propostas que se inscrevam em uma destas sessões a partir dos problemas motivadores. Cada proposta deverá traduzir, num resumo, as contribuições que o/a proponente traz para a sessão – sejam elas teóricas, históricas, metodológicas e/ou do plano da prática política.

Ao fim das sessões, teremos uma Assembleia para a partilha destes documentos e para uma percepção mais global na forma de texto-síntese, ao conjugar os documentos de todas as sessões em um último debate.

As propostas de reflexão podem ser encaminhadas para os seguintes questionamentos:

  • Guerra e Paz na História do Capitalismo

História da guerra e da paz na longa duração. Os movimentos das classes trabalhadoras, sobretudo, suas frações mais avançadas, a luta pela paz entre os povos, contra as mortes e as prisões entre camaradas de classes, sempre foi um objetivo estratégico. Na mensagem do Conselho Geral da AIT sobre a guerra Franco-Prussiana, Marx conclamou os operários franceses a derrubar Luís Bonaparte e seu império e, ao mesmo tempo, que os trabalhadores alemães deveriam impedir os ataques ao povo francês. O objetivo de futuro, segue Marx, baseado na regra internacional da busca da paz. E isso significaria a luta contra os créditos de guerra. Anos mais tarde, antecedendo à Primeira Guerra, Lênin, Trotsky e diversas organizações se insurgiram contra os créditos de guerra que, se aprovados, levariam a uma guerra de interesse do capital, às custas do sangue dos trabalhadores. Em tempos de nacionalismos chauvinistas, de acirramento de confrontos interimperialistas advindos da crise da hegemonia dos EUA, estas questões assumem imensa atualidade.  Neste prisma, sobressaem questões como: Que perspetivas para a classe trabalhadora no novo período de disputa pela hegemonia global? Qual a relação do mundo do trabalho organizado face aos sintomas mórbidos que a sociedade capitalista hoje apresenta (guerras, esgotamento da força de trabalho, desagregação da cultura, decadência do conhecimento, regressão da esfera pública e ascensão do neofascismo)? Como explicar a atração de trabalhadores pelas correntes de extrema-direita e neofascistas? Qual a base social e o programa das correntes de extrema-direita? Como foi esta relação desde 1851? Qual o lugar hoje do nacionalismo, com a socialização da produção à escala mundial que se vive hoje? E do Internacionalismo? A resistência dos trabalhadores à Guerra: história e actualidade; poderá haver um novo “Zimmerwald”? (recuperando o debate sobre o apoio das esquerdas aos créditos de guerra, tema que ressurge no atual contexto de genocídios dos palestinos). Qual o papel dos trabalhadores diretamente ligados à produção (metalúrgicas, economia de guerra, transportes) na organização da resistência à guerra? Que movimentos de solidariedade internacional na história abrem caminhos para a solução da policrise actual?

  • Organização dos Trabalhadores

Em 1864 a AIT fundou-se em Londres, contra a competição dos trabalhadores à escala mundial. Hoje atingimos o valor mais alto de migrações das forças de trabalho e muitos sindicatos e partidos de esquerda deixaram de ser espaços aglutinadores dos trabalhadores mais expropriados e explorados, acentuando os confrontos e a concorrência entre trabalhadores. A adesão de setores das classes trabalhadoras às forças fascistas, é um dos sintomas da rutura com os valores internacionalistas. A competição entre trabalhadores dentro das mesmas empresas é a norma, com as novas formas de gestão, e a precariedade. Frente a esse quadro complexo, é imperioso interpelações como: as formas de organização dos trabalhadores ao longo destes 200 anos que marcam a fundação do movimento operário? A história do capitalismo é uma história de distintas formas de subordinação do trabalho ao capital e de permanente desenvolvimento desigual em escalas local e planetária e, nesse sentido, distintas formas de precariedade não foram a norma do capitalismo?  Não foram as lutas contra as formas brutais de exploração do trabalho que ensejaram o nascimento do movimento operário? Como pensar a periodização das formas de organização, as conceções e as correntes fundamentais da organização dos trabalhadores ao longo destes séculos? Como enfrentar a questão da burocratização dos sindicatos e partidos dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, adensar a formação de quadros dirigentes e estabelecer práticas de democracia interna nas organizações dos trabalhadores? O que as experiências pretéritas de organização autônoma e classista podem ensinar hoje em termos de organização de lutas, com destaque para as greves, fundos de greve, esfera pública e jornais como “andaimes” da organização? Como se organizaram greves internacionais e fundos de greve à escala internacional? Qual o papel dos sindicatos e dos partidos políticos para evitar a concorrência e a gestão mundial do exército industrial de reserva? Quais são os desafios para a Construção dos Coletivos de Trabalho em tempos de aceleração da mercantilização, digitalização e IA?

  • Subjetividade e Modo de Vida dos 99%

A participação em organizações políticas ou em movimentos sociais é um veículo para que os trabalhadores criem um sentido de pertença. Há um espaço de uma subjectividade colectiva em que as emoções de cada um são legitimadas e tratadas como parte de uma narrativa maior. Este meio de validação e suporte emocional, contribui para a redução da alienação e do isolamento e para a possibilidade da co-criação de uma resistência colectiva que pode ajudar a mitigar o impacto de problemas de saúde mental. Através da identificação, da solidariedade, do suporte emocional colectivo os trabalhadores encontram não apenas um sentido de pertencimento, mas também um espaço para o reconhecimento e a validação das suas lutas pessoais. Porém, muitas destas formas de solidariedade estão hoje em crise. Os coletivos de trabalho tornaram-se lugares tóxicos, de denúncias, invejas, competição e destruição do reconhecimento. Mas, sempre foi assim? O trabalho já foi um lugar de sublimação? Há uma nova forma de restruturação produtiva a partir de 1970 ou são apenas antigas formas de trabalho, agora estendidas ao conjunto dos trabalhadores, professores, médicos, advogados, jornalistas, arquitetos e artistas? Como inverter isto? Nesta transição como se vivem os ambientes de trabalho, das questões de saúde ao modo de vida?  Hoje trabalha-se mais horas do que no século XIX? Como olhar a questão da extensão da jornada laboral e da intensificação do trabalho?

  • Educação Omnilateral e Emancipação Humana

A Educação hoje segue enfrentando o dualismo – para os setores que formam a grande burguesia, uma educação para formar dirigentes e para a grande massa da classe trabalhadora que frequenta o ensino público, uma educação para formar força de trabalho que executa, em percursos escolares nos quais o conhecimento histórico-científico é substituído por rarefeitas competências, conformando um processo de esvaziamento curricular com evidentes propósitos classistas. Este apartheid educacional possui particularidades nacionais, mas expressam o desenvolvimento desigual do capitalismo e objetiva recalibrar o conjunto da força de trabalho mundial, sem descurar do propósito crucial de educá-las como exército industrial de reserva e com base na ideologia do empreendedorismo, situação que varia conforme os contextos nacionais. Diante de imensos desafios para a humanidade, desafios que somente as classes trabalhadoras podem enfrentar e superar, a difusão, pelos organismos internacionais (OCDE e Banco Mundial), de uma educação desprovida de rigor científico, cultural, tecnológico, significa uma ameaça ao futuro dos povos.  Preocupa, especialmente, a expropriação do sentido de ser professor e educador, a privatização, a consolidação de holdings que monopolizam crescentemente a educação de diversos países e o tectônico processo de expropriação dos docentes pelo ensino online, IA, e pelo uso de sistemas de ensino e plataformas de trabalho fornecidos pelas referidas corporações. Como expressão do mesmo processo, o ataque à liberdade de cátedra nas escolas e nas universidades.  Em todos os casos as novas formas de gestão e a avaliação individual de desempenho tiveram um papel central na desagregação do trabalho coletivo.

Como pensar uma educação assente no melhor conhecimento produzido pela humanidade para todos os que vivem do trabalho e que possa criar “cidadãos insubmissos” como defendeu Condorcet no auge da Revolução francesa? Como pensar a felicidade e bem-estar no trabalho dos educadores e professores? Como recolocar a educação no campo de reflexão e de ações das lutas de classes? Como recuperar e sistematizar o conhecimento científico nas escolas e nas universidades em um contexto em que o capital, cada vez mais, se apropria da ciência, da arte, da cultura e da tecnologia para seus fins particularistas. Ou seja, como destacou Marx sobre a Comuna de Paris, como libertar a ciência dos grilhões do capital? Como fomentar a cultura científica necessária para forjar outro mundo possível diante das catástrofes da ordem do capital? Quem educamos, como, e para quê? Como se organizaram ao longo destes dois séculos os docentes hoje e qual o papel destes no desenho da escola hoje?

Comissão Organizadora

Dr. Diogo Ferreira (HTC/NOVA)
Dra. Pâmela Cabreira (HTC/NOVA)
Dra. Raquel Varela (HTC/NOVA)
Ma. Beatriz Protazio (UEM)
Me. João Matos (CES/UC)

Comissão Científica

Andrea Oltramari (UFRGS)
António Pedro Dores (CIES-ISCTE-IUL)
António Simões do Paço (UNL/Workers of the World)
Cilson César Fagiani (Universidade de Uberaba – UNIUBE)
Cristiana Lucas Silva (CEG, Universidade Aberta)
Deolinda Folgado (IHA/NOVA)
Diogo Ferreira (HTC/NOVA)
Domingos Caeiro (CEG, Universidade Aberta)
Fabiane Santana Previtali (UFU)
Isabel Roque (CES-UC/Labor and Society)
João Areosa (ESCE/IPS)
João Carlos Relvão Caetano (CEG, Universidade Aberta)
João Lázaro (CIES-ISCTE)
Jonas Van Vossole (CES/UC)
Marcela Uchôa (IEF/UC)
Maria Augusta Tavares (UFPB)
Maria de Fátima Ferreira Queiroz (UNIFESP)
Maria Orlanda Pinassi (UNESP)    
Pâmela Cabreira (HTC/NOVA)
Raquel Varela (HTC/NOVA)
Roberto della Santa (CeG/UAb)
Silvia Jardim (UFRJ)
Susana Mourato Alves de Jesus (CEG, Universidade Aberta)